Na semana passada começou a circular na internet um vídeo em que aparecem algumas pessoas agredindo verbalmente o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, na saída de um bar em Brasília. O gesto causou um frêmito nas redes sociais e na imprensa de maneira geral com uns se colocando contra e outros, mais escarlates, a favor. O fato trouxe à tona a dúvida aqui entre o pessoal. O Toninho, atacante das peladas de sexta-feira à noite, chegou até a cogitar: “será que a culpa dos atos cometidos pelos condenados do mensalão é do Supremo que os julgou?”
A “manifestação” foi realizada, gravada e postada por três pessoas que assumiram o gesto de hostilidade com orgulho. O que causa estranhamento para mim e para a turma aqui do boteco é que no Brasil as coisas parecem estar saindo do campo das ideias e da legalidade e partindo para o pessoal, com agressões verbais e, em alguns casos, beirando a agressão física. Penso ser justo e legítimo que os defensores dos condenados discordem da decisão do STF e até argumentem ou criem redes de discussão e debates, mas não creio ser necessário tratar o juiz com desrespeito, pois como diria o grande pensador aqui do bar, João Gandóla, “até mesmo entre os inimigos deve haver respeito”.
De uns tempos para cá está cada vez mais difícil discutir um assunto sem que uma das partes leve para o lado pessoal. É preciso que haja o debate, mas que seja baseado na razão e nos fatos sem que nenhum dos lados subjugue o outro. A prova dessa intolerância nos debates pode ser observada na diária demonização de determinadas pessoas somente porque têm uma posição diferente da do vigente status quo. Gente como Olavo de Carvalho, Lobão, Danilo Gentili, Rachel Sheherazade, entre outros, sofrem uma paulatina tentativa de desmoralização por terem ideias fundamentadas em outras maneiras de pensar.
Uma das queixas dos que discordam das decisões de Barbosa, por exemplo, é com relação ao chamado mensalão tucano que ainda não foi julgado e, uma vez encerrado com os réus sentenciados, seria a demonstração de que o ministro não foi parcial nas condenações petistas. Entretanto, no fim do mês passado – depois de uma decisão por 8 votos a favor e 1 contra – o STF decidiu enviar o processo do mensalão tucano para a justiça de primeira instância em Minas Gerais. Isso foi possível devido ao afastamento do principal réu do caso, Eduardo Azeredo, que ao renunciar o mandato de deputado perdeu o foro privilegiado e, em uma jogada de mestre, conseguiu ganhar tempo no julgamento. Adivinha quem foi o único ministro a votar contra? Pois é...
Assim como as pessoas que aparecem no vídeo, acredito que todos queremos o julgamento do mensalão tucano e de todos os outros que existiram ou possam vir a existir, pois somente assim acabará esse murmúrio ad infinitum de que tudo não passa de um enorme esquema de conspiração contra esse ou aquele governo. Talvez, com isso, a classe política brasileira entenda de uma vez por todas que a lei não deve e não pode ter dois pesos e duas medidas. Uma pena o vô Tide não estar mais aqui para ver que, aos poucos, os recursos deixam de caber das decisões e a Ordem no Brasil vem apresentando um lento, mas promissor Progresso.
Artigo publicado na quarta-feira (16) na edição impressa do Jornal Cidade de Rio Claro.
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Eu quero que as ideias voltem a ser perigosas.
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