A copa do mundo, prevista para acontecer no Brasil dentro de alguns meses, tem sido um dos assuntos mais comentados atualmente em todos os lugares. Porém, não se trata da famosa escalação que cada um dos 190 milhões de habitantes faz para si e os amigos em conversas corriqueiras sobre futebol, mas sim do acontecimento em si, fato que divide as opiniões entre os que hesitam a respeito de sua realização e os que têm certeza de que vai dar tudo certo.
No bar do Germano, por exemplo, não se fala de outra coisa. As pessoas que frequentam o local são trabalhadores comuns sem apadrinhamento político, mas mesmo assim gostam de dar uns pitacos quando o assunto é política – e o faz sem pudor – mesmo porque a esmagadora maioria tem seus filhos matriculados em escolas públicas bem como suas famílias usuárias de hospitais também públicos. Há uma quantidade enorme de dúvidas sobre a realização da Copa e as mais frequentes são com relação às vias de acesso aos campos, aos estádios inacabados, ao transporte público e também aos aeroportos. Sem contar a questão dos possíveis feriados que ninguém entendeu até agora.
Sediar a Copa é legítimo para um país apaixonado por futebol como o Brasil, o que não parece legítimo é o governo gastar em financiamentos, conforme aponta a previsão de aplicação de recursos do TCU, um valor de aproximadamente R$ 25 bi e não haver, por exemplo, um planejamento estratégico para que os estádios não fiquem gerando gastos depois da Copa, a exemplo dos construídos no Japão que causam um prejuízo de cerca de U$ 5 milhões por ano.
As recentes manifestações contra a Copa, acredito, carregam em si um caráter muito mais simbólico que de refutação gratuita. O brasileiro quer futebol, mas quer também mais atenção e investimentos nos setores públicos, principalmente nas áreas da saúde e da educação. Uma coisa não pode anular a outra. O próprio Gê – comerciante de sucesso e um Liberal Clássico convicto, ainda que não tenha plena noção do que isso seja – não vê problemas em haver Copa e manifestações, simultaneamente. Sempre repete com sua voz rouca: “há de haver consciência política no Brasil do futebol!”.
A década de 2000 ficou marcada com a eufórica chegada da esquerda – ainda que depois de uma guinada de 15 graus a estibordo – ao poder. Uma parcela gigantesca da sociedade acreditava que havia algo novo sob o sol, porém na prática a teoria parece ter sido outra. Agora, estamos sendo surpreendidos com as manifestações populares – aliás, algo muito comum em tempos de cerceamento de liberdades e descaso social – justamente quando um partido de “esquerda” ocupa o poder e, de repente, a sensação de impotência diante das lutas parece estar ficando para trás, renascendo assim a esperança em bandeiras sem insígnia.
Os atuais manifestantes e o povo de maneira geral, parecem não estar se deixando iludir com o milionário marketing político e as evasivas promessas de campanha e, com Copa ou sem Copa, o que importa é que aos poucos o brasileiro está deixando a sala e indo para as ruas reivindicar seus direitos. O Gê avisou que comprou uma nova tevê de led e, com certeza, vamos todos assistir aos jogos (se houver jogos) e as manifestações com o mesmo entusiasmo de sempre.
Artigo publicado na quarta-feira (09) na edição impressa do Jornal Cidade de Rio Claro.
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Eu quero que as ideias voltem a ser perigosas.
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