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30 de mai. de 2014

E o galo cantou

Acredito que os amigos leitores já devem ter visto ou ouvido falar alguma coisa sobre a entrevista exibida pela tevê portuguesa RTP há exatamente um mês na qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou peremptório desconhecer os condenados no processo do mensalão. Disse: “Não se trata de gente da minha confiança. E eu também não vou ficar discutindo a decisão da Suprema Corte. O que eu acho é que essa história vai ser recontada”.

João Gandóla, nosso pensador aqui do bar, está inconformado com a afirmação do ex-presidente que, a seu ver, negando os companheiros, de certa forma, está negando a si mesmo. Ponderou assaz contundente: “um homem que esteve lado a lado com Dirceu, Genuíno e Delúbio durante a maior parte da vida e que, juntos, construíram um partido que conseguiu aboletar a ideia de mudança para uma parte significativa da sociedade, negar que existam vínculos é muita falta de consideração! Não só com os companheiros de uma vida inteira, mas com todo o povo brasileiro!”.

“Dirceu, Genuíno e Delúbio não eram de sua confiança?”, questionou espantado o Toninho que fechava a conta de Zébedeu e ouvia a conversa de orelhada. “Como assim? Desde a sua fundação, no início da década de 1980, o PT contava com a presença de Zé Dirceu que, depois que desfez a cirurgia plástica, passou a participar das atividades do partido. Da mesma forma, Genuíno que desde que foi anistiado em 1979, também participou da sua fundação e foi deputado federal pela legenda por duas décadas. E esse Delúbio? O Pimenta me contou que, antes de ser o tesoureiro do PT, era sindicalista e tesoureiro nacional da CUT, além de ter sido coordenador das campanhas presidenciais de Lula tanto em 1989 quanto 1998”.

O que causa estranhamento até mesmo nas pessoas que simpatizam com Lula e são seus eleitores convictos (ainda há alguns por aqui) é o porquê de o ex-presidente ter feito tal afirmação. Infelizmente, desde que assumiu o poder, o partido vem perdendo pessoas que poderiam em muito somar para aquele processo de transformação vendido na campanha eleitoral de 2002. Baixas significativas como a de Heloísa Helena e Luciana Genro, denominadas, à época, como “radicais do partido”. Sem contar Cristovam Buarque, um homem preocupado com a educação brasileira, demitido por Lula via telefone em 2004.

Esse pessoal aqui do bar anda mesmo antenado e arguto quando o assunto é política. O acontecido na tevê portuguesa revela que a ordem no momento é negar ou não tocar no assunto mensalão durante o período de eleição, pois pode respingar na candidatura de Dilma à reeleição, que, aliás, sofre quedas significativas, segundo as mais recentes pesquisas. Não bastasse a tentativa de calar as manifestações contra a Copa – que podem ou não continuar acontecendo – os dirigentes políticos e, principalmente de Lula, adotaram a negação como fórmula. Negar a tudo e a todos, ou seja, negar, negar, negar. Como fez Pedro, negar.

Artigo publicado na quarta-feira (28) na edição impressa do Jornal Cidade.

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