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21 de jul. de 2014

Ainda a educação

Como já disse outras vezes nesta coluna e venho repetindo há alguns anos sempre que tenho oportunidade, o desmantelo com a educação é uma das coisas mais preocupantes no Brasil e muitos são os fatores que distanciam os jovens das salas de aulas. O tráfico e a violência são os mais preocupantes, mas também colaboram para a pouca atratividade da escola o modo arcaico que o ensino se relaciona com os estudantes e a rapidez com que o mundo se apresenta fora da escola. No intuito de suprir o histórico déficit educacional, muitas coisas foram tentadas, mas a lacuna existencial entre os jovens e a escola continua uma constante nos últimos cinquenta anos.

Coordenado até a sua extinção, em 1969, por Maria Nilde Mascelani, o Serviço de Ensino Vocacional (SEV), conhecido popularmente como Ginásio Vocacional, foi uma ótima tentativa de fazer algo pelo país através da educação. Seis unidades foram instaladas em todo Estado nas cidades de São Paulo, São Caetano do Sul, Americana, Rio Claro, Batatais e Barretos. Essas escolas públicas funcionavam em período integral e primavam pelo conhecimento associado ao valor do trabalho em grupo e a ampliação de qualidades como o amadurecimento intelectual e social, além da descoberta da responsabilidade. Porém, vieram os jipes e tanques e acabaram com os planos.

Leonel Brizola, enquanto governador do Rio de Janeiro, também tentou fazer alguma coisa para melhorar a educação com um projeto educacional de autoria de Darcy Ribeiro, os Centros Integrados de Educação Pública. Os CIEP, como eram conhecidos, além do currículo regular contavam com atividades culturais, estudos dirigidos e educação física. Os alunos permaneciam na escola em tempo integral e recebiam também refeições completas, atendimento médico e odontológico. A capacidade média para cada unidade era de mil alunos e 512 unidades foram construídas durante seu governo. Porém, o projeto foi abandonado e jogado às traças por sucessores do governador.

Tiveram também os Centros Integrados de Atendimento à Criança, que nada mais eram que uma versão federal e collorida dos CIEP de Brizola. Os CIAC tinham como objetivo fornecer à criança e ao adolescente educação fundamental em tempo integral, além de programas de assistência à saúde, lazer e iniciação ao trabalho. Após o Impeachment de Collor, para não perder os investimentos, o programa teve continuidade, porém com outros termos e um novo nome: Centro de Atenção Integral à Criança (CAIC). Tanto os CIAC quanto os CAIC em sua maioria foram desamparados pelos governos posteriores, salvaguardando um ou outro que ainda funcionam com esforço de algumas prefeituras e professores bem intencionados.

Tem também o Cristovam Buarque, que fez e faz muito pela educação e talvez seja o último baluarte para os que ainda esperam a transformação social através do ensino. Idealizou enquanto reitor e professor da UnB, no ano de 1986, o Bolsa Escola – que primeiramente foi implantado em Campinas e Distrito Federal no ano de 1995 e, posteriormente, foi inserido como programa federal pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, em 2001. Vale lembrar que FHC não fez questão de mudar o nome do projeto ainda que a ideia tivesse sido de um político da oposição.

Diferente de Lula que depois do fracasso do Programa Fome Zero (alguém se lembra?) mudou o nome para Bolsa Família e transformou o programa que tinha como objetivo promover a educação em uma forma de assistencialismo a qual tanto criticava. Uma coisa comum entre todas essas tentativas por uma melhor educação é que todas sofreram críticas que vão desde acusações de oportunismo político com potencial de clientelismo implícito às reclamações de alguns educadores críticos a esse tipo de projeto, pois acreditam que seria mais eficaz investir nos modelos de educação já existentes. Uma coisa é certa quando o assunto é educação: algo precisa ser feito no Brasil, se não...

Artigo publicado parcialmente na quarta-feira (16) na edição impressa do Jornal Cidade.

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